domingo, 1 de maio de 2011

Síndrome de Florianópolis

Nesta última sexta-feira, 29 de abril,tive meus objetos furtados do interior do carro de um amigo. O carro estava estacionado na Avenida Madre Benvenutta (lado oposto da Beira Mar, tendo-se como referência o Shopping Iguatemi), em frente à Casa do Cano e EM FRENTE À ACADEMIA DE POLÍCIA.

Por SORTE - não tão sorte assim, e é este ponto que gostaria de debater - consegui encontrar meus pertences: dentre meus pertences, havia alguns documentos, como, por exemplo, um atestado médico. Ao encontrar a mochila atirada num terreno baldio em Palhoça, próximo às margens da BR-101, o frentista de um posto de gasolina entrou em contato com a clínica que emitiu o atestado médico, que por sua vez me contatou.

Dos pertences que estavam na mochila, retornaram os óculos de grau, os óculos escuros, caderno, livro, chaves, uma cuia de chimarrão, e a mochila, é claro. Ficou pelo caminho meu iPod - com os respectivos earphones - uma necessaire, e um pacote de ERVA-MATE. Sério. Sinceramente, não sei o que me deixou mais surpreso: se o retorno de meus óculos de sol, ou o sumiço da erva-mate...

Bem, ao comentar o assunto com alguns amigos, grande parte - senão todos - se manifestaram no sentido de eu ter tido bastante sorte por ter encontrado os  meus objetos pessoais.

Não vejo dessa forma.

Os objetos que retornaram simplesmente não possuem um valor mercadológico para os caras. Óculos para correção de astigmatismo: seria vendido para quem? Não há um receptador em potencial para aquele objeto. Causou-me enorme estranheza meus óculos escuros, de marca conhecida, não permanecerem em seu poder. O iPod nano, ah, este sim. Vale uns 50 reais na mão desses filhos das putas, com o perdão da palavra.

Bem, e a Erva-mate?

Imagino que, graças à uma espécie de Pedra Filosofal, tenham transmutado meio quilo de Ilex paraguariensis na mesma quantidade de Cannabis sp., ou talvez um pouco mais.

Ou seja, não houve sorte, mas somente um descarte do que lhes não interessava.

Esta sensação de sorte em ter recuperado os objetos parece natural. Mas não deve ser encarado desta forma, afinal houve uma violação da propriedade. 

Para melhor ilustrar, transcrevo trecho extraído do Wikipedia, no que trata da Síndrome de Estocolmo, um sintoma encontrado em vítimas de sequestro. Em razão de pequenas concessões do criminoso, a vítima passa a agir em favor daquele, muitas vezes reputando-o inocente daquele crime. Cria uma espécie de amizade com o meliante:

A síndrome recebe seu nome em referência ao famoso assalto de Norrmalmstorg do Kreditbanken em Norrmalmstorg, Estocolmo que durou de 23 de agosto a 28 de agosto de 1973. Nesse acontecimento, as vítimas continuavam a defender seus captores mesmo depois dos seis dias de prisão física terem terminado e mostraram um comportamento reticente nos processos judiciais que se seguiram. O termo foi cunhado pelo criminólogo e psicólogo Nils Bejerot, que ajudou a polícia durante o assalto, e se referiu à síndrome durante uma reportagem. Ele foi então adotado por muitos psicólogos no mundo todo.

As vítimas começam por identificar-se emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados porque, do ponto de vista do refém é muito difícil, senão impossível, ter uma visão clara da realidade nessas circunstâncias e conseguir mensurar o perigo real. As tentativas de libertação, são, por esse motivo, vistas como uma ameaça, porque o refém pode correr o risco de ser magoado. É importante notar que os sintomas são consequência de um stress físico e emocional extremo. O complexo e dúbio comportamento de afetividade e ódio simultâneo junto aos captores é considerado uma estratégia de sobrevivência por parte das vítimas.

É importante observar que o processo da síndrome ocorre sem que a vítima tenha consciência disso. A mente fabrica uma estratégia ilusória para proteger a psique da vítima. A identificação afetiva e emocional com o sequestrador acontece para proporcionar afastamento emocional da realidade perigosa e violenta a qual a pessoa está sendo submetida. Entretanto, a vítima não se torna totalmente alheia à sua própria situação, parte de sua mente conserva-se alerta ao perigo e é isso que faz com que a maioria das vítimas tente escapar do sequestrador em algum momento, mesmo em casos de cativeiro prolongado.

Esta sensação de sorte decorrente da recuperação de determinados bens que estavam em poder dos ladrões faz parecer que o infrator é um cara bonzinho, afinal, os caras deixaram meus pertences num local em que pudessem ser localizados e me fossem entregues novamente.

A partir disso, e numa adaptação ao sintoma da Síndrome de Estocolmo, passo a denominar esta conjuntura de SÍNDROME DE FLORIANÓPOLIS: ocorre quando você é privado de seus bens e, o criminoso, num suposto ato de bondade, retira o que lhe interessa e descarta o restante em algum lugar que possa ser localizado. A vítima, ao recuperar os bens, ainda que não em sua totalidade, fica consolada, reputando-se uma afortunada entre os muitos que sofreram um furto, ou roubo.

Disso tudo, tiro uma conclusão: Evite deixar objetos pessoais no interior de seu automóvel, mesmos se for se ausentar do local por poucos minutos, seja o tempo de fazer uma refeição. Especialmente, nas proximidades da Universidade Federal de Santa Catarina, na Av. Madre Benvenutta, mesmo que seja em frente à Academia de Polícia.

Fecho o post com uma canção da banda Muse, denominada "Stockholm Syndrome".


Abraços a todos.

domingo, 17 de abril de 2011

The Big-Bullying Bang Theory

Durante a minha infância, ao fazer algo que desagradasse meus pais, ou dissesse alguma palavra chula diante deles, por vezes fui repreendido com a indagação "É isto que tu aprendes na escola?".

Bem, os acontecimentos recentes, tais como a tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, demonstram que as escolas vêm sim ensinando seus alunos a cometer certas atrocidades. Não diretamente, mas pela omissão nas situações em que crianças são eleitas por um aluno, ou, como é mais comum, por um grupo de alunos, para serem ridicularizadas e humilhadas pelo fato de possuir alguma característica diferente. 

Não necessariamente um defeito: quem nunca ouviu algo sobre o "CDF" da turma? Expressão esta, traduzida como Cu-de-ferro, ou cabeça-de-ferro; sua origem vem da língua francesa: Cou de fer, ou pescoço-de-ferro, aqueles que ficam por várias horas curvados sobre os livros em busca de conhecimento.

Há quem diga que este tipo de prática não seja capaz de desencadear uma reação como a do Rio de Janeiro, em que crianças - que nada tinham com o bullying sofrido pelo assassino - foram alvejadas e mortas em sala de aula: "Eu sofri bullying a minha infância inteira e não me transformei num assassino em massa"... Fato é que existem níveis deste tipo de agressão.

Colegas de classe do assassino de Realengo foram entrevistados pela Rede Globo. Indagados sobre o que costumavam fazer com Wellington, chamou-me um tanto a atenção o relato de um dos rapazes, que afirmou ser comum segurarem-no pelos pés, erguendo-o até a altura em que a cabeça ultrapasse a altura do vaso sanitário; em seguida, enfiavam a cabeça do garoto na latrina, apertando a descarga em seguida. As crianças que expectavam aquele espetáculo mórbido nada faziam, alguns por medo de que sofressem alguma violência semelhante, outras porque faziam parte do grupo, e limitavam-se a rir da situação.

Concluí que Wellington era um homem-bomba: uma bomba-relógio, prestes a explodir. E foi o que aconteceu.  

Uma pesquisa da Universidade de Warwick, Inglaterra, aponta que o bullying crônico ou grave pode desencadear transtornos psicoticos em crianças predispostas. Num espaço amostral de 6400 crianças com idade entre 7 e 13 anos, 46% sofreram bullying entre 8 e 10 anos; destas, 5,6% desenvolveram sintomas psicoticos.

O assassino, ao que tudo indica, sofria de esquizofrenia. Muito provavelmente desencadeada pelos traumas escolares. Será que foi isto mesmo que ocorreu? Esta é uma pergunta que ninguém poderá responder. 

Gostaria de deixar bastante claro que não pretendo defender a atitude do rapaz. Mas, tecnicamente, ele foi mera peça da tortura psicologica sofrida durante a infância. Os culpados disso são os agressores que ele cita nas gravações. Quanto a isto - e somente quanto a isto - eu compartilho da opinião dele.

Por fim, transcrevo o trecho de uma história que muitas vezes escutei, capaz de ilustrar o nascimento da violência injustificada:

"Tinha uma em que colocaram 5 macacos em uma jaula com uma escada e uma banana no alto da escada. O problema é que, cada vez que um macaco pegava a banana, o resto dos macacos levava um choque. Com o tempo, os macacos aprenderam e avançavam em qualquer um que chegasse perto da escada, com medo do choque.

Até que trocaram um dos macacos por um novo, que não sabia nada sobre os choques. Claro, este tentou subir na escada para pegar a banana mas foi retirado pelos outros macacos e espancado antes de pegar a banana. Trocaram outro, e mais outro macaco e isso ocorreu novamente.

Finalmente, quando todos os macacos originais foram substituidos, desligaram a máquina de choques. Os macacos continuavam punindo aqueles que se arriscavam a chegar perto da escada muito embora nenhum deles tenha experimentado choque."

Um abraço a todos. Bullying NÃO.



Post script:

Primeiramente, peço desculpas pela repetição do termo "bullying". Não há um termo exato na língua portuguesa para essa prática que nos causa tamanho repúdio. Sugiro "tortura mental", "tortura psicológica", "assédio moral infantil"... Fique livre para sugerir.

Aos pais das crianças vítimas do bullying: socorram seus filhos, pois eles precisam de ajuda, e ninguém os ajudará.

Aos que praticam bullying, praticaram,  ou incentivam essa merda: você destrói a personalidade de uma pessoa.

Gênese.

Eis o início de uma nova era: a era do Blog. Do meu blog.

Já passei por inúmeras formas de desperdício de tempo. Talvez este blog seja tão somente mais uma.

A temática será sempre a mesma: falar um pouco de nada sobre tudo, e um outro tanto de tudo, sobre o nada. Direito, música, grampeadores, pensamentos, gastronomia, fotografia, coachar de sapos e outros tudos, bem como uma infinita variedade de nadas.

A falta de pretensão é o que reina neste recinto.

Perca seu tempo aqui e me faça companhia, pois já estou vendo os ponteiros de meu relógio passearem.

Bem-vindo.